sábado, 23 de outubro de 2010

5º Dia da XI Semana de Espiritualidade - Texto e fotos




















































                • Sexta-feira: " Saborear Deus em nosssa vida". (Sentido: paladar)



Temática: Noite de oração teresiana.
PALESTRANTE: Frei Marcos Matsubara, OCD



  ORAÇÃO TERESIANA
Sempre ouvimos dizer que para Teresa de Jesus a oração é um “trato de amizade”. O que significa isso na prática?       Se pensarmos que a oração é apenas um conjunto de coisas, práticas, atos, devoções, então acreditaremos que a oração é fruto destas coisas. Por outro lado, se percebemos que a oração é uma relação entre pessoas, então ela começa a tomar outro rumo: da aceitação do amigo, da doação de nós ao amigo. A pedagogia de uma oração vista como relação de amizade é completamente diferente daquela que é tida como pedagogia do silêncio interior, da paz psicológica, conquistada a partir de técnicas como postura corporal , respiração, etc. (não que isso não seja bom, mas a oração deve ir além destas coisas).
A idéia de Teresa (trato de amizade) faz com que Deus seja visto como amigo e, portanto, a partir desta perspectiva nossa oração vai depender de como vejo este amigo, ou seja, o conceito de oração (e sua experiência) vai depender da idéia que faço de Deus. Se Deus é visto como um “provedor” de minhas necessidades, então a oração se limitará a ser uma constante petição. Isso vai resultar no lamentável hábito de muitos que oram apenas nos momentos de necessidade, ou seja, quando não têm necessidade de pedir, simplesmente abandonam a oração. Contudo, se para nós, a idéia que fazemos de Deus for de um amigo, então o procuraremos sempre, porque um amigo é aquele que participa da nossa vida inteira, é aquele com quem partilhamos tudo e com quem queremos estar em todos os momentos.

AMIZADE-RELAÇÃO
O ser humano é fruto de relação: relação com os outros e relação com o OUTRO por excelência, que é Deus. Uma verdadeira amizade supõe abertura (sair de mim mesmo e deixar que o outro seja do jeito que ele é, e não como eu quero que ele seja) e confiança (acreditar em sua verdade) em relação ao outro.
Uma relação entre dois amigos sempre está relacionada à prática e experiência. Por mais que você leia todos os livros sobre amizade e não tem um amigo, então você tem apenas a idéia, mas não sabe o que é amizade porque não a vive, não tem a experiência. Com Deus é a mesma coisa: eu posso ter idéias geradas nas leituras, cursos, seminários, semanas de espiritualidade, mas conhecer a Deus só é possível pela relação pessoal, ou seja, pela experiência da oração.
Se considerarmos que a oração é essencialmente uma relação, então o egocentrismo é algo que nos impede de vivermos esta oração. Uma pessoa egoísta não conseguirá ter uma experiência de oração porque não consegue sair de si mesma, de seus interesses, das suas necessidades, de suas preocupações e ter humildade suficiente para ver a importância do olhar do outro. Aliás, não enxerga o outro porque está sempre olhando para si mesma. Como poderá ter o olhar de Deus se só quer ver aquilo que lhe interessa?
Vivemos numa época que estimula o egoísmo (faço o que eu quero e não o que devo fazer). As iniciativas de cunho comunitário, coletivo, social enfrentam muitas dificuldades justamente porque a cultura contemporânea está baseada no individualismo. Teresa propõe a partir de sua experiência de oração um valor diferente: o da relação, porque a pessoa é essencialmente social, comunitária. Não posso ser eu mesmo sem a relação com os outros. Eu sou o que são as minhas relações com os outros. A Igreja, a comunidade, não pode fechar-se sobre si mesma. A experiência da relação com os outros nos faz entrar em nós mesmos para descobrir as imensas riquezas que Deus nos dá. Não é possível seguir a Jesus sozinho, mas somente com a presença e companhia dos outros, do outro.

LIBERDADE: Uma relação de amizade só é possível entre duas pessoas livres. Teresa era uma mulher livre, independente. Não se deixava aprisionar pelas idéias alheias. Para ser autônoma procurou ler bastante, estudou muito, dialogava com pessoas instruídas, sábias. Ela sempre procurou sua formação pessoal porque sabia que disso dependia disso dependia sua liberdade e independência. Uma pessoa é mais livre quanto mais gratuita for, porque a liberdade tem um fim: o amor. Liberdade não significa que podemos fazer o que queremos. Liberdade significa que nos libertamos de todos os impedimentos que não nos deixam ser o que devemos ser: amigos de Deus e amigos dos outros.
TRANSFORMAÇÃO: Entre dois amigos acontece frequentemente que há uma influência recíproca. Há um ditado popular que diz “Dize-me com quem andas e te direi quem és!”. Não há como fugir desta realidade: entre amigos há uma transformação ocasionada pela influência de suas idéias, gostos, interesses, valores. É muito comum que amigos(as) tenham gostos, assuntos comuns (roupas, o corte de cabelo, leituras, lazer, esportes). Um acaba influenciando o outro. A oração transforma, muda nossa vida. A transformação da vida do orante e, sem dúvida, a palavra mais completa nos escritos de Santa Teresa. A amizade, o amor transformam a vida das pessoas. a vida das pessoas muda segundo os amigos que ela tem. Então, ter a Deus como amigo, ter a Jesus como amigo íntimo, isso haverá necessariamente de nos transformar. Teresa viveu esta transformação (“Daqui por diante é um livro novo, uma nova vida: a que levei até aqui era minha; a que passei a viver depois que comecei a falar destas coisas de oração é a que Deus vive em mim” V  23,1). Muitas pessoas interessam-se por Santa Teresa de Jesus em virtude de suas abundantes experiências místicas. Temos a tentação de crer que os fenômenos místicos tem muita importância na vida espiritual. Mas o que importa realmente é a força de transformação da oração. Para um discernimento espiritual devemos olhar a transformação da vida da pessoa orante e não somente para os prazeres, arroubamentos e fenômenos místicos experimentados por ela. ( “É nos efeitos e obras posteriores que se conhecem as verdades da oração, pois eles são o melhor crisol para prová-las” IV M 2,8)  O oração só é eficaz quando transforma a nossa vida, de resto serve apenas para nos iludir e lustrar o ego.
 No Livro das Moradas, Teresa escreveu que a porta para entrar no Castelo (nosso ser mais íntimo) é a oração. Note bem, é a porta e não uma das portas. A oração é a porta para conhecermos a Deus e a nós mesmos. Ela é a escola das verdades fundamentais da vida humana (Quem é Deus? Quem sou eu?) e a união mútua, recíproca com a Verdade que é Deus. A Verdade de Deus é uma única: Deus é AMOR. Amor significa comunhão. Quando Deus formou o ser humano à sua imagem, nos fez “Deus por participação”. Frei Maximiliano Herráiz diz que “somos Deus”. Para evitar polêmicas, prefiro dizer que somos “um pedaço de Deus”.  A nossa vocação, nossa verdade  mais profunda é nossa união com Deus. Desde o nascimento a pessoa é chamada à união com Deus.

EXIGÊNCIAS DA ORAÇÃO COMO AMIZADE:
É muito mais fácil fazer oração do que ser orantes.  No primeiro caso (fazer oração) temos que reservar um momento de nossa vida para orar, no segundo caso fazemos de nossa vida inteira uma permanente oração, é uma forma de ser, de viver. Somos amigos de Deus permanentemente. Santa Teresa, quando começa a falar da vida de oração (V 11,1  primeira forma de regar o jardim), não diz “falando dos que começam a fazer oração”. Ela diz:”falando dos que começam a ser servos do amor”. Ao fim deste mesmo parágrafo ela diz: “Somos tão difíceis e demoramos tanto a nos entregar de todo a Deus...” Entregar-se é fazer uma doação de si mesmo, ser servos. De fato, somos difíceis e demoramos tanto a nos entregar. Podemos entregar algum tempo, algumas horas de oração, mas não nos entregamos de todo a Deus. É a razão pela qual não gozamos profundamente da amizade com Deus. Esta é a ÚNICA dificuldade pela qual não conseguimos orar. No fundo, as distrações, a falta de concentração, o cansaço... não são os verdadeiros problemas da oração. A única dificuldade da oração é não dar todo nosso coração a Jesus. E por isso nos dispersamos em meio a preocupações, distrações, leituras... A oração teresiana usa a pedagogia da exigência do amor, da doação de si mesmo. A união total exige doação total.
A amizade é gratuita. Não podemos pedir um pagamento aos nossos amigos porque somos amigos deles. Não há salário que pague a amizade. A relação é mais relação quanto mais gratuita for. Nunca podemos exigir o amor (“Viver de amor é dar sem medida. Sem na terra salário reclamar. Sem calcular, eu dou, por estar convencida, de que quem ama nunca pensa em retribuição.” S. Teresinha).  Estabelecer limites para o amor é calcular (Até aqui dá para se tolerar, até este limite eu agüento, eu me sacrifico... Não foi isso que fez Pedro ao perguntar a Jesus “Senhor, quantas vezes eu devo perdoar? Até sete vezes?).

COMO FAZER A ORAÇÃO TERESIANA?
*Dar atenção à situação concreta de cada um. Privilegiar a pessoa e não as estruturas (EX: normalmente os aspirantes têm que fazer a oração mental do mesmo modo que os religiosos que tem anos de vida religiosa. É o mesmo que obrigar um bebê a comer tudo que comem seus pais!).
*Meditar não é orar propriamente. A meditação tem como fim motivar a vontade, o amor, o encontro com Deus, mas não deve durar o tempo todo da oração. Quando falamos com os amigos, dizemos coisas das nossas vidas, dialogamos, partilhamos, mas devemos deixar que os silêncios ocupem seus espaços para deixar que o que dizemos, entre no nosso coração.
“O iniciante deve prestar atenção para saber o que é melhor para si” (V 13,14). A pessoa deve ser criativa durante sua vida de oração porque uma coisa que lhe faz bem num determinado período de sua vida, em outra época já não serve mais.
*Fixar toda nossa atenção na pessoa de Jesus e não dar voltas em torno do nosso eu. A oração amizade exige solidão. “Procurai logo, filhas, pois estás sós!” CP 26,1 Solidão não é um valor absoluto. Solidão significa pessoa de um si amor. Quando na solidão a pessoa fica dividida entre amores, a experiência será terrível.
*A atitude do orante deve ser de silêncio. Escutar mais que falar; amar que pensar; estar mais que fazer.




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