terça-feira, 27 de outubro de 2009

23/10 - Jesus compartilha sua missão com os discípulos.Palestrante: Ir. Andréa dos S. Lourenço, DJE

Prólogo da Palavra-Caminho

















Pra início de conversa

Por que será que nos últimos tempos, a Igreja tem nos convidado insistentemente a refletir sobre a nossa missão, enquanto discípulos e discípulas de Jesus?

O homem: um ser que se esquece.Somos seres “esquecentes"

Temos a necessidade de que a Palavra nos seja novamente explicada, assim como os discípulos de Emaús, a fim de nos fazer arder o coração.

I Discipulado= Encontro + Experiência + Intimidade CONHECIMENTO

Jo 1,35ss
Que Procurais?
Rabi, onde moras?
Vinde e vede!
Eles foram... permaneceram...
Era mais ou menos a décima hora

Mc 3,14ss
E constituiu Doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar com autoridade para expulsar os demônios.

Esta equação geral PROXIMIDADE e VÍNCULO Jo 15,1-5

1Jo 1,1-3
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos tocaram do Verbo da Vida, o que vimos e ouvimos nós vo-lo anunciamos, também a vós, para que vós também estejais em comunhão conosco

O Cristianismo é um encontro com ALGUÉM: a pessoa de JESUS CRISTO. ( DA, 243 )‏

II Discipulado – Testemunho: as duas faces da mesma moeda
A Dimensão MARTIRIAL do Seguimento de Jesus

O TESTEMUNHO é consequência natural.
É a condição sine qua non do seguimento de Jesus (DA 140 e 146)‏

III Discipulado e nova relação com o CORPO de JESUS
“Levaram meu Senhor!”
(Jo 20,13)‏

Maria:
Ícone da nova relação com a corporeidade de Jesus a partir da ressurreição:

A relação não é mais com a corporeidade física, mas com o Corpo Místico de Jesus:
“Não me retenhas...
...mas, tu, vai ter com meus irmãos...”

Quando nossos corpos são capazes de abraçar, acolher, perdoar, amar, somos o Corpo de Cristo, hoje realizando tais gestos libertadores.

IV – Conclusão
Envio...
O ícone dos Discípulos de Emaús:
Jesus-Caminho nos indica o caminho

Jesus aproxima-se da realidade e compartilha a vida

O anúncio de Jesus não pode desconsiderar a realidade histórica concreta onde a sua mensagem será proclamada

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada de verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração. (GS 01)‏

“Ouvir os motivos do medo, desencanto e sofrimento que assombram as pessoas faz parte do acolhimento indispensável no processo catequético e evangelizador”.(Catequese, caminho para o Discipulado, 53

A presença de Jesus faz arder o coração dos discípulos

“Crise do retorno a Emaús”
Na crise do discipulado, deixar que o Mestre nos conduza pelo caminho (deserto, montanha, jardim, planície...) e nos faça arder o coração. (Os 2,16)‏

Ajudar as pessoas a darem as razões da sua esperança.

Como está a nossa capacidade de ser instrumento de reencantamento na vida das pessoas?
Como está o meu encantamento?

Jesus: Mistagogo do Pai

Através do caminho de Jerusalém a Emaús, Jesus ajuda os discípulos a percorrerem um caminho de compreensão da fé.

Jesus é o MISTAGOGO por excelência – aquele que acompanha os discípulos em seu processo de crescimento e amadurecimento da fé.

Jesus é
CUM PANIO
COMPANHIA:
aquele que parte o pão da palavra, da presença, da escuta...

O discípulo, uma vez introduzido no caminho da fé é chamado a dar testemunho de sua fé de forma mistagógica, a fim de que sua vivência seja um convite à experiência da fé.

22/10 - A fé vivida e celebrada. Palestrante: Pe. Luís Henrique Eloy e Silva, Puc Minas



Esquema


1.Fé
2.Fé celebrada
3.Fé vivida


Fé: “A fé é a garantia do que se espera e a prova do que não se vê”. (Hb 11,1)

A celebração Litúrgica


•Memorial
•Mistério Pascal de Jesus Cristo
•Mistério Pascal de Jesus Cristo = Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
•Vida da Igreja que atualiza o Mistério

Sacrosanctum Concilium 7

•Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro - «O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz» -quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos, de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza. Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt. 18,20).
•Em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai.
•Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral.
•Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada par excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja.


Fé Vivida: Coerência e Testemunho

21/10 - “Oração não é outra coisa senão tratar de amizade estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama.” Palestrante: Fr. Leandro

A oração, encontro de amigos

Tanto na formulação teresiana como na sanjuanista, a oração aparece claramente desde o princípio como a experiência e o sinal de encontro interpessoal, relação entre pessoas, Deus e o crente. É, portanto relação entranhada que Deus abre como graça a suas criaturas racionais.

No magistério de João da Cruz aparece com clareza a união entre oração e a virtudes teologias. Ensinado sobre o recolhimento, diz: “não levando a alma a outro sustento a oração senão a fé, a esperança e o amor” (dito 123). Recolhimento não é outra coisa senão “por toda a alma só no bem incompreensível e separá-la de todas as coisas compreensíveis” (3S 4,2), é deixar tudo quanto não é Ele. É portanto um relacionamento de PESSOA A PESSOA, UM TU A TU.

Este encontro interpessoal que é a oração, Teresa o viveu e o expressou em uma palavra intrinsecamente humana: a amizade: “que não é outra coisa a oração mental senão tratar de amizade, estando muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama” (V 8,5).

Quando a Santa Madre cunhou essa definição, tinha como pano de fundo sua larga e qualificada história de amizade humana e divina. História de amizade qualificada com esses dois adjetivos em atenção a nossa fragilidade intelectual e a nossa tendência em romper a harmonia e integração do divino e humano, da relação com Deus e com o próximo, o amor e o serviço vividos no silêncio da oração e no empenho pela causa do Reino, também no trabalho de cada dia. No caminho da oração essa dicotomia não pode haver. Pois uma vida de oração autêntica não se distancia da realidade.

Deus nos chamou a sua amizade, a compartilhar sua vida, oferecendo-nos seu Filho, amigo verdadeiro, proximidade entranhada em sua humanidade que é a nossa, homem de fraqueza e trabalhos. Deus nos acompanha no caminho da vida. Deus, amigo, nos amou primeiro,nos elegeu, abrindo-nos as portas de sua amizade.

A oração - amizade se situa no centro da vida, não às margens, na periferia, ou naquilo que sai do ordinário da vida. É valor da vida em todas as suas dimensões. Somos o que é nossa relação com Deus e os irmãos.

A oração- amizade é vida e exercício de gratuidade, não entra no mercado do útil ou do necessário. Tem em si mesma sua justificação, seu valor, ou seja, realizar a vocação de ser – em relação, ser e viver-com, em comunhão de horizontes e de caminhos. Teresa nos convida a sermos pessoas orantes, mas também insiste no ato concreto da oração, só para servir a Cristo Crucificado. (4M 2,10)

Na oração-amizade o amor é a substância. Entre os amigos circula o amor, a acolhida e a doação mútua. Isto expressa claramente Teresa: “a substância da perfeita oração não está em pensar muito, mas em muito amar”. Nem todos têm a habilidade natural para meditar, mas todas as almas têm a capacidade de amar (F 5,2). Assim todas as pessoas têm a capacidade de rezar; a oração está aberta a todos, seja qual for sua psicologia, sua formação, o tempo disponível, a situação concreta pela qual passem.

A pessoa, por natureza e graça, é capaz de ter esta relação pessoal com Deus. Sendo amizade, a oração abarca toda a existência da pessoa, e não pode estar reduzida aquilo que comumente chamamos de oração silenciosa ou litúrgica, pessoal ou comunitária: Assim expressa Teresa: “o verdadeiro amante ama em toda parte e sempre se lembra do amado” (F 5,16). O Senhor, o “verdadeiro amante” tem abertos todos os caminhos para nos comunicar a abundância do seu amor seu amor.

“A oração-amizade exige e relativiza ao mesmo tempo os momentos de oração. Exige-os, porque a amizade é força de presença totalitária, procura do trato a sós com Deus a amizade experimenta-se como necessidade imperiosa de encontro a sós com Aquele de quem nos sabemos amados. Mas relativiza esses tempos de oração porque a oração-amizade abre-se à vida. Esta se apresenta como o grande espaço para a vivência da amizade. Basta assegurar a presença do Amigo, ou se quisermos, viver a vida em fidelidade à amizade. Por que? Porque ligar oração-amizade significa, realmente fazê-la consistir na relação que se estabelece entre duas pessoas, significa carregar o acento sobre aqueles que são protagonistas dessa história a que chamamos oração-amizade”. (Maximiliano Herraiz Garcia)

Outro elemento da oração-amizade é, antes de tudo, uma forma de ser. Portanto, a oração define a vida da pessoa. “para os que começam a ser servos do amor que outra coisa não é, senão, determinarmos a seguir pelo caminho da oração ao que tanto nos amou. (V 11,1)

Somente partindo da oração-amizade podemos falar racionalmente de “necessidade” de oração. Necessidade que parte de dentro, ou seja, do chamado de Deus que nos dá capacidade para tratar amigavelmente com Ele. Somos capazes de relação, de “natureza tão rica que podemos conversar não menos que com Deus” (1M 1, 6). Nos é realmente possível ter esse diálogo com Deus porque estamos capacitados para tal. Necessidade que percebe e padece somente quem a procura viver intimamente.

Na medida em que vamos tomando consciência de que somos amados por Deus aumenta essa necessidade sentida pela pessoa de crescer nessa amizade com Deus e com os demais. Saber-se amado é o elemento essencial para o exercício da oração-amizade.

Ninguém se sabe amado por referência de terceiros; mas é preciso o encontro pessoal. A notícia recebida provoca o desejo da constatação por si mesmo. O ato de oração é a consciência explícita da amizade que une Deus e a pessoa.

O protagonista da oração é o próprio Deus que se empenha muito mais do que nós par levar à frente essa história de amizade. Podemos dizer que a oração cristã é mística desde o começo. Deus, porque nos ama mais e melhor do que nós a ele, leva o “peso” da oração-amizade. “o Senhor deseja tanto que o queiramos e procuremos sua companhia que vez ou outra não nos deixa de chamar para que nos aproximemos a Ele” (2M 2).

GARCIA, Maximiliano Herráiz. Un camino de experiencia: 30 días de Ejercicios con santa Teresa de Jesús y san Juan de La Cruz. Ed. Monte Carmelo. p. 46-52. A tradução é nossa e não está presente todo o texto indicado nas páginas.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

20/10 - Do homem velho ao homem novo, Palestrante: Vera, OCDS


A VIDA EVANGÉLICA

JUSTIÇA

Lei do Mais Forte
Lei de TaliãoEx 21, 23-25

PARÁBOLA
Filho Pródigo
Pai Misericordioso
Filho reencontrado
Lc 15, 11-32

PARÁBOLA
Operários da undécima hora
Mt 20, 1-16
JUSTIÇA parece não ser conceito suficiente para representar a mensagem (e a atuação!) de Jesus

E então?
LIBERDADE
AMOR

JESUS x CONVENÇÕES
Mt 12, 9-14
Lc 13, 10-17
Lc 14, 1-6
Lc 15, 1-2
Em resumo:
Lc 16, 16
Ouviste... Eu vos digo...
Mt 5, 21-22
Mt 5, 27-28
Mt 5, 31-32
Mt 5, 33-37
Mt 5, 38-42
Mt 5, 43-45

O Maior Mandamento
Mt 22, 34-41
Mc 12, 28-34Lc 10, 25-28
Quem é o próximo?
Mt 5, 46-48
Lc 10, 29-37
Mt 25, 31-46

Novidade de Jesus
Jo 3, 17
Jo 8, 31-32
Jo 10, 10bJo 13, 1-20

Novo Mandamento:
Jo 13, 34-35Jo 15, 11-12

Aspirações à Vida Eterna Madre Teresa de Jesus – 1572(?)

Vivo já fora de mim
Desde que morro de amor
Porque vivo no Senhor
Que me escolheu para si.
Quando o coração lhe dei
Com terno amor lhe gravei:
Que morro porque não morro

Vivo sem viver em mim
E tão alta vida espero
Que morro porque não morro
Vivo sem viver em mim

Esta divina prisão
Do amor em que eu vivo
Fez a Deus ser meu cativo
E livre meu coração
E causa em mim tal paixão
Ser eu de Deus a prisão
Que morro porque não morro

Ai, que longa é esta vida!
Que duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros
Onde a alma está metida!
Só de esperar a saída
Me causa dor tão sentida
Que morro porque não morro

Vida, que posso eu dar
A meu Deus que vive em mim,
Se não é perder-me, enfim,
Para melhor o gozar?
Morrendo, o quero alcançar,
Pois nele está meu socorro
Que morro porque não morro
O seguimento vivencial de Jesus não é imediato.

CONVERSÃO!!!
“Morro porque não morro...”(1572-1577?)

Castelo Interior Madre Teresa de Jesus – 1577 Morada 7, capítulo 3, número 6

O que mais me surpreende é o seguinte. Já vistes os sofrimentos e desolações por que passaram estas almas, em virtude das ânsias de morrer para se regozijarem em Nosso Senhor. Agora, têm grande desejo de o servir. Desejam contribuir para a sua glória. Se lhes fosse possível, se fatigariam para fazer lucrar uma só alma. Não só não desejam morrer, mas querem viver muitos anos, padecendo gravíssimos sofrimentos, se tivessem esperança de que o Senhor seria louvado por seu meio, ainda que na mínima circunstância.
Mesmo se soubessem com certeza que, saindo a alma do corpo, logo iria rejubilar em Deus, não se moveriam a querê-lo. Não lhes importa. Não pensam na glória dos santos, nem desejam por enquanto ver-se nela. A glória que cobiçam é a de ajudar de algum modo o Crucificado. Sobretudo quando vêem que é tão ofendido e há tão poucos deveras ocupados em zelar pela honra de Deus, desapegados de tudo mais.
Morada 7, capítulo 4, número 6Ó minhas irmãs, como a alma onde o Senhor está tão particularmente presente deve estar esquecida de seu descanso, indiferente a toda honra, alheia a qualquer desejo de ser tida em boa conta. Estando muito com ele – como deve ser – pouco se lembra de si. Só pensa em como há de contentá-lo mais – em que circunstâncias e por que meios mostrará o amor que tem. A oração serve para chegar aqui, filhas minhas. Eis a finalidade deste matrimônio espiritual: que dele nasçam obras, sempre obras!

Irmã Teresa do Menino Jesus da Santa Face Manuscrito C – 1897 (nn. 288-290)
Este ano, Madre querida, Deus deu-me a graça de compreender o que é a caridade. Compreendia antes, mas de maneira imperfeita, não tinha aprofundado esta palavra de Jesus: "O segundo [mandamento] é semelhante a este: "Ama o teu próximo como a ti mesmo". Dedicava-me, sobretudo, a amar a Deus e foi amando-o que compreendi que não devia deixar que meu amor se traduzisse apenas em palavras, pois: "Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus". Essa vontade, Jesus a deu a conhecer muitas vezes, deveria dizer quase a cada página do seu Evangelho; mas na última ceia, quando sabe que o coração dos seus discípulos arde de maior amor por Ele que acaba de dar-se a eles no inefável mistério da sua Eucaristia, esse doce Salvador quer dar-lhes um novo mandamento. Diz-lhes com indizível ternura: "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; que, assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros. E nisto precisamente todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros”.
De que maneira Jesus amou seus discípulos e por que os amou? Ah! não eram suas qualidades naturais que podiam atraí-lo, havia entre eles e Ele uma distância infinita. Ele era a ciência, a Sabedoria Eterna; eles eram pobres pescadores ignorantes e cheios de pensamentos terrenos. Contudo, Jesus os chama de amigos, de irmãos, quer vê-los reinar com Ele no reino do seu Pai e, para abrir-lhes esse reino, quer morrer numa cruz, pois disse: Não há amor maior que dar a vida por quem se ama.
Madre querida, ao meditar essas palavras de Jesus, compreendi como era imperfeito o meu amor para com minhas irmãs, pois não as amava como Deus as ama. Ah! compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, não se surpreender com suas fraquezas, edificar-se com os menores atos de virtude que os vemos praticar. Compreendi, sobretudo, que a caridade não deve ficar presa no fundo do coração. Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, e assim alumia a quantos estão em casa. Parece-me que essa candeia representa a caridade que deve alumiar, alegrar, não só os que me são mais caros, mas todos os que estão em casa, sem excetuar ninguém.
Quando o Senhor ordenou a seu povo que amasse o próximo, como a si mesmo, não tinha vindo ainda à terra. Mas, sabendo até que grau se ama a si mesmo, não podia pedir às suas criaturas amor maior para com o próximo. Quando Jesus deu a seus discípulos um mandamento novo, o Seu mandamento, como diz adiante, não é mais amar o próximo como a si mesmo que ele ordena, mas amá-lo como Ele, Jesus o amou, como o amará até o final dos séculos...
Ah, Senhor! sei que não ordenais nada impossível, conheceis minha fraqueza e minha imperfeição melhor do que eu mesma; bem sabeis que nunca poderei amar as minhas irmãs como vós as amastes, se vós mesmo, ó meu Jesus, não as amásseis em mim. É porque queríeis me conceder essa graça que fizestes um mandamento novo. Oh! como o amo, sendo que me dás a certeza de que vossa vontade é amar em mim todos aqueles que me ordenastes amar!...

Irmã Teresa do Menino Jesus da Santa Face Manuscrito C – 1897 (n. 292)

Encontra-se na comunidade uma irmã que tem o dom de desagradar-me em tudo, suas maneiras, suas palavras, seu caráter eram-me muito desagradáveis, porém é uma santa religiosa que deve ser muito agradável a Deus. Não querendo entregar-me à antipatia natural que sentia, disse a mim mesma que a caridade não deveria assentar-se nos sentimentos, mas nas obras. Então, apliquei-me em fazer por essa irmã o que teria feito pela pessoa que mais amo. Cada vez que a encontrava, rezava por ela, oferecendo a Deus todas as suas virtudes e méritos. Sentia que isso agradava a Jesus, pois não há artista que não goste de receber elogios pelas suas obras, e Jesus, o artista das almas, fica feliz quando, em vez de olhar apenas o exterior, entramos no santuário íntimo que ele escolheu para morada e admiramos sua beleza. Não me restringia a rezar muito pela irmã que me levava a tantos combates, procurava prestar-lhe todos os serviços possíveis. Quando estava tentada a responder-lhe de modo desagradável, contentava-me em lhe dar meu mais agradável sorriso e procurava desviar a conversa, pois diz-se na Imitação que é melhor deixar cada um no seu sentimento que se entregar à contestação.
Muitas vezes também quando não estava no recreio (quero dizer, durante as horas de trabalho), tendo algum relacionamento de serviço com essa irmã, quando os combates se faziam violentos demais, fugia como desertora. Como ela ignorava completamente o que eu sentia por ela, nunca suspeitou os motivos do meu comportamento e está persuadida de que o caráter dela me é agradável. Um dia, no recreio, disse-me, aproximadamente, as seguintes palavras com ar contentíssimo: "Aceitaríeis dizer-me, Irmã Teresa do Menino Jesus, o que tanto vos atrai em mim, pois cada vez que me olhais vejo-vos sorrir?" Ah! o que me atraía era Jesus oculto no fundo da alma dela... Jesus que torna suave o que é amargo... Respondi que sorria por estar contente em vê-Ia (obviamente não acrescentei que era do ponto de vista espiritual).

Documento de Aparecida (2007)

19. Em continuidade com as Conferências Gerais anteriores do Episcopado Latino-americano, este documento faz uso do método “ver, julgar e agir”. Este método implica em contemplar a Deus com os olhos da fé através de sua Palavra revelada e o contato vivificador dos Sacramentos, a fim de que, na vida cotidiana, vejamos a realidade que nos circunda à luz de sua providência e a julguemos segundo Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e atuemos a partir da Igreja, Corpo Místico de Cristo e Sacramento universal de salvação, na propagação do Reino de Deus, que se semeia nesta terra e que frutifica plenamente no Céu.

Edith Stein Carta ao Papa Pio XI (1933)

Santo Padre!
Como filha do povo judeu que, pela graça de Deus, nos últimos onze anos é também filha da Igreja Católica, ouso falar ao Pai da Cristandade sobre aquilo que oprime milhões de alemães. Faz semanas que temos visto feitos perpetrados na Alemanha que debocham de qualquer senso de justiça e humanidade, para não mencionar amor ao próximo. Por anos, os líderes do Nacional Socialismo têm pregado o ódio aos Judeus. Agora que eles chegaram ao poder no governo e armaram seus seguidores, entre eles elementos provadamente criminosos, esta semente de ódio germinou. Apenas recentemente o governo admitiu que ocorreram excessos. Em que medida, não podemos dizer, porque a opinião pública está sendo amordaçada. Entretanto, julgando pelo que soube por meio de conhecidos, não é, de forma alguma, uma questão de casos excepcionais nem singulares. Sob pressão de reações externas, o governo adotou métodos “mais brandos”. Lançaram o lema “nenhum judeu deve ter sequer um fio de cabelo ameaçado”. Mas, com medidas de boicote – privando as pessoas de seu meio de vida, honra cívica e pátria – leva muitos ao desespero; na última semana, fui informada, por relatos reservados, de cinco casos de suicídio como consequência dessas hostilidades. Estou convencida de que essa é uma condição generalizada que pode levar a muito mais vítimas. Podemos lamentar que esses infelizes não tenham maior força interior para suportar seu sofrimento, mas a responsabilidade deve recair naqueles que os levaram a esse ponto e também recai sobre aqueles que se mantiveram calados ante tais acontecimentos.
Tudo o que aconteceu e continua a acontecer todos os dias tem origem num governo que se diz “cristão”. Durante semanas, não apenas judeus mas também milhares de fiéis católicos na Alemanha e, creio eu, em todo o mundo, têm aguardado e esperado que a Igreja de Cristo eleve sua voz para por um fim a esse abuso do nome de Cristo. Essa idolatria da raça e do poder governamental que está sendo martelada na consciência do público por meio do rádio não é uma clara heresia? O empenho em destruir sangue judeu não é um abuso da santíssima humanidade de nosso Salvador, da bem-aventurada Virgem e dos apóstolos? Isso tudo não é diametralmente oposto à conduta de nosso Senhor e Salvador, que, mesmo na cruz, ainda rezou por seus perseguidores? E isso não é uma mancha nesse Ano Santo, que foi declarado um ano de paz e reconciliação?
Nós todos, que somos fiéis filhos da Igreja e que vemos as condições na Alemanha de olhos abertos, tememos o pior para o prestígio da Igreja, se o silêncio continuar por mais tempo. Nós estamos convencidos de que esse silêncio não poderá, no longo prazo, levar à paz com o atual governo germânico. Por enquanto, a luta contra o catolicismo será conduzida silenciosamente e menos brutalmente do que contra o Judaísmo, mas não menos sistematicamente. Não demorará muito e nenhum católico poderá manter seu emprego na Alemanha, a menos que se entregue incondicionalmente ao sistema.
Aos pés de Sua Santidade, rogando sua bênção apostólica.

(assinado) Dr. Edith Stein, Professora no Instituto Germânico de Pedagogia Científica, Münster, Westphalia, Collegium Marianum

terça-feira, 20 de outubro de 2009

19/10 - O mistério da Páscoa de Cristo: centro da vida cristã. Palestrante: Pe. José Cândido, PUC Minas

I. OS DADOS DA ESCRITURA

1. O CENTRO E O FUNDAMENTO DE TODA A VIDA DA IGREJA É O MISTÉRIO PASCAL, OU SEJA, O CRISTO MORTO E RESSUSCITADO DESIGNADO COM O SIGNIFICATIVO NOME DE KYRIOS CELEBRADO NA LITURGIA COM A EXPRESSÃO REPETIDA: "NOSSO SENHOR JESUS CRISTO".

2. A SAGRADA ESCRITURA EXPRESSA ESTA CENTRALIDADE E FUNDAMENTALIDADE DE VÁRIAS FORMAS.

A. 1 COR 3,10-11: SÃO PAULO SE REFERE A ISTO COM A EXPRESSÃO CIMENTO DAS NOVAS COMUNIDADES;

B. 1 PE 2,4-6: PEDRO SE REFERE À PEDRA ANGULAR, PEDRA DO NOVO TEMPLO ESPIRITUAL QUE ESTÁ SENDO CONTRUÍDO E QUE É A IGREJA;

C. 1 TM 2,5 / HB 8,6 / 9,15 / 12,24 CRISTO COMO MEDIADOR ÚNICO QUE INAUGURA UMA NOVA ALIANÇA NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO (MC 14,24 E l COR 11.25).

D. A CARTA AOS HEBREUS TAMBÉM DESIGNARÁ CRISTO COMO SUMO, ÚNICO E ETERNO SACERDOTE QUE REALIZA UMA NOVA LITURGIA NA QUAL SE OFERECE UM ÚNICO SACRIFÍCIO E UMA ÚNICA OBLAÇÃO PARA A REMISSÃO DOS PECADOS DO MUNDO (HB 10,12 E 14) SACRIFÍCIO DO SEU PRÓPRIO SANGUE PARA UMA ETERNA REDENÇÃO.

3. O ANÚNCIO PASCAL É BÁSICO, O FUNDAMENTAL DA FÉ CRISTÃ COMO SE DEDUZ DA PREGAÇÃO DE PEDRO EM ATOS 2,14-36; 10,34-43; E DA PREGAÇÃO DE PAULO EM ATOS 13,17-41.

4. O TEXTO DA PREGAÇÃO DE PEDRO É REDAÇÃO DE LUCAS, MAS O SEU CONTEÚDO O PRECEDE E REMONTA DIRETAMENTE AOS APÓSTOLOS. ESTE NÚCLEO CENTRAL É CONCISO E RECORRENTE EM TEXTOS MAIS ANTIGOS COMO 1 COR 15,3-5. ESTA É A SUA FÓRMULA BÁSICA:
VÓS LEVASTES À MORTE JESUS, MAS DEUS O RESSUSCITOU (AT 2,23/3,13/4,11/5,30). ISTO ACONTECEU SEGUNDO A ESCRITURA (2,25-31 / 3,18 / 4,11) E NÓS SOMOS TESTEMUNHAS (2,32-36 / 3,15-16 / 5,32).

5. TODO ISRAEL É CONVIDADO A OUVIR ESTE ANÚNCIO E SE CONVERTER ÀQUELE DEUS VIVO "QUE FALARA OUTRORA AOS NOSSOS PAIS" (AT 3,13) QUE SE VOLTOU COM BENEVOLÊNCIA AO SEU POVO CUMPRINDO AS PROMESSAS FEITAS E ENVIADO O DOM DO ESPÍRITO ESPERADO.

6. ESTE ANÚNCIO FUNDAMENTAL PODE SER EXPRESSO COM A SEGUINTE TESE: A IGREJA APOSTÓLICA TEM CONSCIÊNCIA DE SER A COMUNIDADE MESSIÂNICA DOS TEMPOS DERRADEIROS, CONGREGADA PELA FÉ EM JESUS CRISTO MORTO E RESSUSCITADO DO QUAL OS DOZE SÃO AS TESTEMUNHAS QUALIFICADAS E AUTORIZADAS.

II. ALGUNS TÓPICOS

1. A PÁSCOA DE JESUS REVELA QUEM ELE É E QUAL O SIGNIFICADO DA SUA VIDA E MISSÃO.

2. A PÁSCOA DE JESUS É O PONTO MÁXIMO DE TODA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO DESDE A CRIAÇÃO. TODO ANTIGO TESTAMENTO NADA MAIS É DO QUE PREPARAÇÃO, ANÚNCIO E PROMESSA.

3. A IGREJA POSTERIOR É A REALIZAÇÃO DO MISTÉRIO PASCAL DE CRISTO ATÉ SUA VINDA: ANUNCIAMOS...

4. TODA RELIGIÃO TEM UMA HIEROFANIA FUNDANTE. A HIEROFANIA FUNDANTE DO CRISTIANISMO É CRISTO MORTO E RESSUSCITADO.

5. AS CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS DISTO PARA A VIDA DA IGREJA:

A. LITURGIA - CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO PASCAL DE CRISTO: O ÚNICO SACRAMENTO.

B. MORAL - VIDA CRISTÃ, VIDA NO ESPÍRITO DE CRISTO RESSUSCITADO.

C. PIEDADE - DEVOÇÃO CENTRAL DO CRISTÃO É CRISTO, NADA MAIS QUE DELE NÃO DECORRA.

D. PROFISSÃO DE FÉ - CRISTO E SEU MISTÉRIO. NÃO CREMOS PRIMEIRAMENTE EM DEUS MAS EM CRISTO E NELE RECONHECEMOS E ADORAMOS A TRINDADE.

E. IGREJA É A CONTINUAÇÃO DA ENCARNAÇÃO DO VERBO E ATUALIZAÇÂO DO MISTÉRIO PASCAL NA HISTÓRIA.

F. A IGREJA EXERCE VISIVELMENTE O PROFETISMO. O PASTOREIO OU REALEZA E O SACERDÓCIO DE CRISTO EM FAVOR DA SALVAÇÃO DE TODOS.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009